O PRECONCEITO E A BANALIDADE DO “PENSAMENTO MAÇONICO”
- Irmão Marcelo Artilheiro
- 3 de nov. de 2022
- 3 min de leitura
O preconceito, seja ele qual for, é um conceito prévio. Uma formulação conceitual antecipada ou criada pela mente humana, inclusive maçônica, fechada em si mesma e por isso carente de apoio cultural, técnico, científico e maçônico, muitas vezes materializado no “sempre foi assim” ou “pelo que eu saiba”.
São várias a razão desta deficiência na maçonaria, inicialmente, pode-se dizer que se trata de uma incapacidade puramente reflexiva ou cognitiva, o que não se pretende exaurir neste texto; outra, seria a própria origem dos textos maçônicos, língua em que escrito, generalidades de expressões, a utilização de termos “indeterminados”, “inexatos”, “aproximados”, “semelhantes”, o uso da linguagem simbólica, usos e costumes e etc.
A banalidade do preconceito constitui-se na mediocridade do não pensar, é mais fácil aceitar tudo como se diz e pronto, em outras palavras, a banalidade do pensamento preconceituoso maçônico dar-se de forma omissiva, por em tese, encontrar espaço institucional e cultural, trata-se então de uma postura histórica, comportamental, cultural e “política”; e não ontológica. Nesse sentido, faz-se indispensável lembramos do adágio escrita na “Câmara Escura”: “Se temerdes ser esclarecido sobre os erros e fraquezas humanas, não vos sentirei bem entre nós”. (Fls. 20, do Ritual de Aprendiz do Rito Schroder – GOB - 2009), em outras palavras, qualquer preconceito é incompatível com a maçonaria. Hodiernamente, como na obra “A roupa nova do imperador”, de Hans Christian Andersen (ANDERSEN, Hans Christian. A roupa nova do imperador. São Paulo: Martins Fontes, 2001), faz-se necessário vencer o preconceito (medo, comodidade e etc.) e dizer que o “Rei está nu!”.
Daí também a importância de René Descartes ao emitir a célebre e corajosa proposição de que “Não me impressiona o argumento de autoridade, mas, sim, a autoridade do argumento”, numa época marcada pelo dogma da infalibilidade papal e da fórmula absolutista de que “O rei não pode errar” (The king can do no wrong), bem como a importância ao valor da verdade que também se lê nestes conhecidos versos de Fernando Pessoa, três séculos depois bem lançada reflexão cartesiana: “O universo não é uma idéia minha./A idéia que eu tenho do universo é que é uma idéia minha”, que se pode parafrasear para: a maçonaria não é uma ideia minha, a ideia que eu tenho da maçonaria é que é minha.
Na maçonaria positivada, para alguns, infelizmente, não há mais a necessidade de pensar, refletir, pesquisar, estudar e etc., temos a tecnologia, temos os “grupos de estudos”, a “orientação ritualística”, os “irmãos mais experientes” e temos o Google, disponível em tese, para responder qualquer pergunta ritualística e ou de natureza normativa. Pensar para que?
Essa inabilidade do pensamento termina por fazer prepondera o entendimento dominante, no qual há tantas interpretações equivocadas e sem fundamentos, mas quase sempre sem culpados. Impõe-se reconhecer que há limites na interpretação de Rituais, Ritos e Normas. Não podemos, na Maçonaria, agir como o personagem Humpty Dumpty (do livro Alice Através do Espelho) e dizer: “— eu dou ao Ritual, ao Rito, a Norma ou a palavra o sentido que quero”.
Para vencer esta inércia cognitiva ou interpretações infundadas, faz necessário uma interpretação sistemática, não apenas textualista, positivista, histórica e etc., o que não faz sentido na Maçonaria. Assim, aos últimos moicanos que queiram pensar, refletir e estudar maçonaria, muita calma quanto a interpretação dos textos. Quando o personagem Humpty Dumpty disse à Alice que ela poderia ter “364 desaniversários” em vez de um aniversário e, assim, receber 364 presentes em vez de apenas um, Alice respondeu: não pode ser assim. E deve ter brandido alguma norma do reino nas barbas de Humpty Dumpty. Na “Constituição” do reino de Alice estava escrito que cada habitante tem só um aniversário por ano.
Recuperando o sentido original do diálogo de Alice com Humpty umpty:
“— Quando eu uso uma palavra — disse Humpty Dumpty num tom escarninho — ela significa exatamente aquilo que eu quero que signifique ... nem mais nem menos.
— A questão — ponderou Alice — é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem coisas diferentes”.
O maçom que não pensa e não estuda se torna cumplice destes erros e preconceitos culturais, pode-se assim equiparar, a banalidade do mal diagnosticada por Hannah Arendt.
O pensar, o refletir é uma luta contra o enfeitiçamento do preconceito, comodidade e presunção do conhecimento. Por isso Schroder ensina que o primeiro dever do maçom, ainda no grau de aprendiz é “aprender a pensar” (Fls. 74, do Ritual de Aprendiz do Rito Schroder – GOB – 2009).
Não precisa divergir de mim, eu quero que você tenha razão.
OBS.: Texto sem revisão.
C.A.M. e T∴F∴A∴
Ir.´. Marcelo Artilheiro
Joinville (SC), 03 de novembro de 2022

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